quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A taberna é prá menina e pró menino!






a taberna da rua das flores fica mesmo na rua das flores junto ao largo camões, no chiado!

É iscas ou meia desfeita?



iscas!


1/2 desfeita de bacalhau!


Estes são dois dos emblemáticos pratos que se podem encontrar diariamente à hora do almoço nesta taberna tão simpática no coração de Lisboa. 

·         * As iscas são elaboradas segundo uma receita antiga em que se utiliza baço de vitela/porco raspado para engrossar o molho.

Para além destes ícones da casa a ementa vai rodando com mais 2 pratos. 
Escrito num quadro a giz e apresentado ao cliente de mesa em mesa pela simpática equipa de sala.
Refeições rápidas num ambiente descomprometido, cheio de memórias e retratando uma taberna à antiga! Almoçar assim torna uma tarde de trabalho muito mais agradável J

À noite o menu é variado!




Veja, carapau, mandioca, sável, lampreia, ovas, camarões, cantarelos, repougos, lambujinha, pampo, broa de avintes, cardos, moelas, entre muitos outros...
É aquilo que houver de melhor na época! O que o sr. do talho melhor tiver! Aqueles produtos regionais que pouco são divulgados e utilizados!




Todas estas pérolas são bem casadas de forma moderada mas não menos arrojada com ingredientes do mundo, uma interacção luso-asiática é notável. O resultado é uma cozinha de sabor, simples, de época e com produtos genuínos.

É importante percebermos e compreendermos os diferentes tipos de cozinha e serviços que se podem criar a partir da cozinha tradicional portuguesa. A taberna é um conceito que em tempos se foi perdendo mas que nos dias de hoje, com a conjuntura económica actual, com o estilo de vida cosmopolita, a procura por refeições mais leves e em que se pode experimentar vários pratos na mesma refeição é sem dúvida algo de sucesso.

Uma equipa que transparece o seu gosto pelas artes de bem comer, beber e servir.  




Foi sem dúvida um sítio onde tivemos liberdade para executar o produto final sobre o lema:

“ estás a ver como cozinha a tua avó em casa, aqui faz-se assim”-  Antonieta






terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Minho recomenda-se!

Querido Portugal!



(na fronteira com nuestros hermanos - 1km exacto de distância) 


Valença recebeu-nos debaixo de chuva. Entre ruas e ruelas, estradas e estradinhas chegámos à quinta do Prazo!



Dia I

a manhã foi aterefada! Ajudámos a Chef Amaya a elaborar alguns pratos para a revista Expresso online.

eis algumas das iguarias preparadas:

- salada de lampreia fumada
- escabeche de lampreia
- lampreia com milho partido (para os locais denominado por estrolho)
- coelho na abóbora com alecrim
- bacalhau lascado com broa
- rojões à minhota com puré de beterraba e castanhas
- bolo no tacho de lampreia
- arroz doce à minhota com gin e compota de laranja
- borrachinhos de Valença em calda de vinho aromatizada

Esta foi uma oportunidade de ouro para conhecermos mais sobre a gastronomia regional minhota e aprofundar ainda mais o nosso conhecimento sobre vários pratos confeccionados com a iguaria da época: a lampreia!

Da nossa passagem por Valença vamos levar na memória...

... a broa de milho branco (elaborada com uma espécie de milho branco autóctone da região minhota), uma das melhores broas que já tinhamos provado! .. e cozida em forno de lenha.



... os biscoitos de milho (também muito típicos das região! A farinha de milho é moída ainda de modo artesanal em moinhos de água). O facto de ser moída artesanalmente permite uma granulagem mais espessa da farinha o que vai conferir uma textura granulada aos biscoitos.



... o estrolho (milho branco partido e cozido), em períodos de longa escassez de arroz, este era utilizado como substituto ao mesmo na elaboração de vários pratos.



... a lampreia fumada (lampreia escalada e fumada, posteriormente recheada com ovos cozidos e pimentos).



- borrachinhos de Valença (um preparado de pão, ovos, canela, mel, açucar e vinho do porto. posteriormente fritos e finalizados em calda de vinho tinto)





Dia II

Fomos a um viveiro de lampreias.. onde ficámos a conhecer um pouco mais sobre a espécie, em que rios desova, o seu preço de mercado, as suas características, como se alimenta e como funciona toda a parte de captura e armazenamento em tanques ainda vivas..







Passámos pelo mercado de Vila Nova de Cerveira onde encontrámos várias relíquias portuguesas! Pela manhã pode-se encontrar o mercado das lavradeiras onde senhoras já de idade, que ainda trabalham o gosto pela terra produzem legumes, frutas e animais de grande qualidade e variedade.



De volta a Valença ainda houve tempo para uma breve passagem pelas muralhas.. vale a pena visitar!

A Chef Amaya Guterres, partilhou connosco o que de melhor a sua região tem, o trabalho que tem vindo a desenvolver, a paixão que tem pelo Minho e a constante procura por receitas que possam estar esquecidas entre a população. É importante que iguarias como o estrolho ou os borrachinhos não sejam apagados da memória das gentes que lá habitam.

Agradecemos a oportunidade que nos deu ao poder partilhar connosco um pouco da sua sabedoria e conhecimento acerca das suas raízes.


Chef Amaya Guterres





Restaurante Ferrugem - Terceiro Momento

E a conclusão.... essa ainda está por escrever! Ao conversar com os chefes Renato e Dalila percebe-se que o Ferrugem ainda nos reserva muitas surpresas para o futuro.

Este projecto não se esgota na definição de restaurante. O empreendedorismo desta dupla está bem patente no desenvolvimento de conceitos como o pastel de (bacalhau com) nata e na manteiga de azeite. A partir de ideias simples foram capazes de desenvolver produtos com potencial comercial, e que, nestes tempos menos positivos para o sector permitem explorar novos mercados e rentabilizar a actividade - são sem dúvida um exemplo a seguir.

(Paulo) Numa nota mais pessoal tenho a agradecer todo o conhecimento que me transmitiram e que foi possível em tão curto espaço de tempo. Foram três dias de grande aprendizagem, sobretudo de algumas bases da gastronomia molecular e da boa utilização dessas técnicas. Obrigado por tudo, por me ensinarem e por me inspirarem! E obrigado Joana, por teres dividido o teu espaço de trabalho comigo :)

Restaurante Ferrugem - Segundo Momento

A carta deste restaurante, para quem não a conhece, compõe-se de 3 momentos, assim apelidados (e daí a nossa “brincadeira” com os títulos destes textos), a que correspondem a entrada, prato principal e sobremesa. A filosofia seguida na construção da carta, renovada a cada estação, é a de utilização dos produtos da época, com valorização dos ingredientes regionais.

A cozinha, de autor, baseia-se na cozinha tradicional portuguesa, sobretudo da região minhota, a que são aplicadas técnicas de cozinha contemporâneas, nomeadamente da gastronomia molecular, mantendo os sabores e reinventando apresentações e texturas.
 
Um dos "Primeiro Momento" - Caviar português v.2012 (ovas de sardinha e caviares de vinagre, tomate, broa de milho, ervas finas e espuma de azeite)
Para o primeiro e terceiro momentos da refeição, a dupla Dalila e Renato Cunha reserva algumas surpresas e muita criatividade aos comensais, reservando o conforto da comida caseira para o momento intermédio, num casamento perfeito.

E a conclusão, num terceiro momento...

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Restaurante Ferrugem – Primeiro Momento

Quem procura o restaurante Ferrugem pela primeira vez provavelmente irá perder-se…

Mas, ao perguntar a qualquer habitante na localidade da Portela, este saberá, muito certamente, indicar o caminho certo!

Um conselho aos viajantes….mantenham-se na estrada principal, e não sigam as indicações para o centro e, o mais provável é que consigam encontrar o que procuram :)
 
 No dia 21, após uma rápida viagem entre Braga e Portela, chegámos decididos a encontrar a carismática fachada do Ferrugem. Como outros, também nós nos perdemos, mas logo fomos encaminhados no caminho certo até que…..

Encontrei…..

 
… um restaurante com uma imagem bem caracterizada, onde a rusticidade da pedra das casas tradicionais se funde com uma decoração contemporânea, num conjunto agradável e bem pensado;

… uma sala pequena e aconchegante, bastante confortável e que convida a prolongar a refeição;

…uma cozinha imaculadamente limpa (acho que quem trabalha numa cozinha aprecia sempre um espaço onde tudo parece e cheira a novo!!);

… uma equipa de 5 profissionais dedicados, liderada pela dupla de chefes Dalila e Renato Cunha, e que viriam a ser a minha nova “família da cozinha” para os 3 dias que se seguiriam.
 
 
 
A equipa (da esquerda para a direita) - Luís Castro, Renato Cunha, Abílio Silva e Dalila Cunha. Só faltou mesmo a Joana Jorge.
 
O primeiro contacto que tivemos com o restaurante espelha bem o momento que esta casa vive. Depois da presença, no dia anterior, num programa televisivo, aguardavam nesse dia a chegada da equipa de televisão para mais uma reportagem. Aqui, o lema é “trabalho em progresso”!
 
Em breve, o segundo momento...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Uma raíz gastronómica...no meio da serra

Querido Portugal,

Hoje fomos às origens das origens!

Saindo de Braga, partimos em direção ao coração da serra minhota, em busca de uma casa muito especial – O Sítio da Broa, em Grijó, nas redondezas de Arcos de Valdevez. Aqui tudo muda: o tempo, a estrada, a paisagem. A área protegida de Corno do Bico proporcionou-nos uma vista de cortar a respiração e esta casa esconde-se por entre vales e encostas, nascentes, curvas e árvores intocadas cobertas de musgo invernal!

Rio Vez em Arcos de Valdevez
Tivemos conhecimento deste local de bom comer através da página na internet do projeto Sabores do Minho, e mais do que a comida o que nos atraiu foi a missão e o trabalho que lá se desenvolve. Após dezena e meia de quilómetros percorridos desde terras do rio Vez até à localidade de Grijó tivemos a sorte de encontrar, não sem antes nos julgarmos perdidos, o Sr. Joaquim Carlos Dantas. Infelizmente, e porque nesta zona é quase impossível sermos contactados, não pudemos telefonar antes a reservar almoço. Conclusão, tivemos que alterar os nossos planos e ficar com a barriga a dar horas. No entanto, tivemos a possibilidade de ficar a falar com o criador deste espaço durante uma boa hora.

Estrada para Grijó

O projecto Sabores do Minho nasce da paixão por esta terra, pelas suas gentes e pela consciência de que é importante preservar a diversidade biológica e promover as espécies autóctones, isto é, aquelas que são naturais desta região. Aqui, são preservadas duas variedades vegetais, o milho e o feijão tarrestre, e uma raça bovina - a cachena. Desenvolveram-se trabalhos de selecção e certificação das variedades em conjunto com o Banco Português de Germoplasma Vegetal, e obtiveram-se assim produtos únicos, valorizados pela sua origem, qualidade e autenticidade.

Sr. Joaquim Dantas com 2/3 da equipa Cook'in Portugal
 

O milho colhido é utilizado para produção de pão segundo técnicas tradicionais transmitidas oralmente. Esta broa já foi inclusive catalogada pela Slow Food Foundation o que atesta bem a sua qualidade.
Aqui, as carnes são produzidas localmente com destaque para os bovinos da raça Cachena. Ao consumir estas carnes valoriza-se a raça e contribui-se para o desenvolvimento da comunidade local. Actualmente, esta raça que já esteve em vias de desaparecer, contará com um efectivo de cerca de duas mil cabeças.

Sem se pretender vulgarizar estes produtos, aposta-se na promoção desta diversidade e na criação de um produto turístico diferente dos demais, com uma verdadeira preocupação social e ambiental. Aqui o objetivo não é o de trabalhar para grandes mercados, mas sim o de desenvolver uma oferta adequada à dimensão da região e especificidade dos produtos. Mas a filosofia por trás de tudo é bem mais do que isso.... é pura e simplesmente uma paixão em preservar uma tradição na sua origem e contribuir para a sua divulgação e continuidade. Obrigado por ser como é, por ensinar, acreditar e inspirar Sr. Joaquim Dantas.

Serões em Braga

“ O resto do jantar correu sem outra novidade, a não ser a saudação geral, que vitoriou a surpresa do doutor, a qual, desta vez, consistiu em uma dúzia das decantadas frigideiras de Braga, a mais apetitosa concepção dos pasteleiros da augusta cidade”
(In Serões da Província, Júlio Dinis)

Se alguma criação gastronómica merece ser citada numa obra literária intemporal e persiste até aos dias de hoje, então nós temos que a conhecer!

Após o nosso acordar na cidade de Braga descobrimos, para nossa surpresa, que estávamos hospedados mesmo ao lado da pastelaria, já bicentenária, que produz as afamadas frigideiras de Braga.
 
Frigideiras do Cantinho

O nome não nos dava pistas, à primeira, do que se tratava. Rumámos então à pastelaria Frigideiras do Cantinho e foi aqui, com os pés assentes por cima das ruínas romanas que jazem no subsolo e que podem ser vistas através do piso transparente, que as provámos. As frigideiras de Braga são pastéis de massa folhada, de tamanho generoso, recheadas com carne de vitela moída e com um tempero especial.


A afamada frigideira (ou pelo menos, metade dela...)

 
A fama destes pastéis já permitiu a esta casa expandir o seu negócio na cidade, e ainda que restem poucos traços do edifício original de 1796, a qualidade das frigideiras obriga a uma visita.
Reza a lenda que a receita foi criada à mais de 200 anos, e transmitida de geração em geração até aos dias de hoje. Não sabemos se terão sido iguais às do doutor, mas que também mereceram a nossa saudação, lá isso mereceram!

Tu queres é couves e vinho verde!

muda-se de região, muda-se de paisagem....MINHO!

Ao entrarmos nesta região somos invadidos por uma paisagem verde que se prolonga vista fora. É impossível ficar indiferente a tanta beleza. Começam a aparecer os vinhedos de vinho verde, em que a condução das vinhas é feita de forma algo diferente daquela a que estamos habituados noutras regiões. Aqui, predominam as vinhas altas, em latada e em sistema de enforcado. 
As características do solo, clima e das castas da região (por exemplo: a tão afamada alvarinho que até tem um vinho com o seu nome) são determinantes nas características que este vinhos de carácter leve e fresco apresentam. Por estas razões e mais algumas o vinho verde é único no mundo e o segundo mais exportado de Portugal, a seguir ao vinho do Porto.






vinhedos do vinho verde


 as couves galegas no meio das vinhas

Paralelamente à vinha e muitas vezes no meio da mesma existe outro cultivo que faz parte integrante da paisagem, as couves!! A galega é a rainha cá do sítio!
... mas ora vejamos uma particularidade: 

"as províncias do Minho, Beira Alta e Trás-os-Montes chamam galega às coisas fracas, pequenas ou pouco aproveitadas, como gado, linhos, frutas, legumes, roupas, etc.
Ou seja tudo o que era de carácter miúdo e nada majestoso era logo apelidado de galego devido à rivalidade entre Portugal e Espanha! "

"Alguns exemplos: couve galega (que é uma couve de natureza tosca), vaca galega (dá muito leite mas aguenta pouco os trabalhos de lavoura), linho galego (era o linho mais fraco)."

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In: Braga Teófilo, 1995 - O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, volume I, 3ºedição; Portugal de Perto, Publicações Dom Quixote, Lisboa pag. 91



Ontem passámos por: Porto - Felgueiras - Guimarães - Braga

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Em busca das pérolas portuenses…



Sabem aqueles sítios especiais e castiços, completamente fora dos circuitos turísticos e que apenas os locais conhecem? Aqueles que não figuram em nenhum roteiro, página da internet e que em alguns nós mesmo duvidamos que certas autoridades da nossa praça alguma vez tenham passado por lá (ou então há já muito que não abririam as portas)?   
Aquela bifana, isca, petisco ou sandes de pura gula que representam verdadeiras pérolas que adoramos descobrir? Pois bem, nós por cá, fomos à descoberta desses tesouros que também fazem parte da nossa cultura.  
Aproveitando as nossas pausas da tarde e acompanhados pelo nosso guia Arnaldo lá fomos subindo e descendo ruas, atravessando vielas, transportados por sítios desconhecidos…. até ao coração portuense.


Uma entrada estreita e um balcão corrido não são suficientes para albergar toda a gente que procura os “cachorrinhos” da cervejaria Gazela. Garantem-nos que em dias concorridos a fila de clientes sai fora de portas, e que um solitário funcionário permanece no 1º andar do estabelecimento, a cortar meias fatias de queijo todo o dia, todos os dias. Não conseguimos confirmar a informação mas, garantimos que pilhas de queijo cortado nascem naqueles frigoríficos e desaparecem nas ditas sandes em menos de nada. A garantir o serviço, dois eficientes empregados…. um serve, outro cobra – equipa perfeita nº 1. 
Que dizer destes “cachorrinhos”? Simples como nos vem à memória, duas fatias de pão tipo baguete, ligeiramente torradas e entremeadas com salsicha fresca, linguiça e o tal queijo. Pincelado com o tempero da casa o pão é cortado com rapidez e mestria de quem faz isto há muitos anos, em pedaços que se metem à boca de uma só vez. O sabor bem condimentado e ligeiramente picante é guloso e convida a acompanhar com um fino, à moda portuense. É um daqueles petiscos que nos apetece repetir! 







cachorrinhos na cervejaria gazela


A segunda pérola levou-nos até à Praça dos Poveiros (desta vez conseguimos ler a placa, eh eh). Aqui descobrimos as sandes de pernil da Casa Guedes. Tasco popular, aberto a toda a gente. Um tabuleiro na vitrina aquecida onde posava despido do coirato, um pernil inteiro de porco pingando unto. Fez logo lembrar um shoarma de peça inteira, mas ao estilo português.  
Também aqui dois empregados por trás do balcão moviam-se rapidamente. Um alimenta, o outro mata a sede – equipa perfeita nº 2. Por cá, ninguém fica muito tempo à espera para ser atendido! 
A sandes, em bola ligeiramente tostada é recheada sem avareza com finas fatias de pernil humedecidas com o molho do assado. Para os apreciadores há ainda a versão enriquecida com uma grossa fatia de queijo da serra. Uma sandes de assado de se lhe tirar o chapéu. Robusta no sabor, potente no carácter. 




sandes de pernil na casa guedes


O Restaurante Sol e Sombra reservava a terceira pérola das pausas da tarde – a bifana no pão. Muitos dirão que não há bifana que se compare à das Vendas Novas. Certo! Outros, que a melhor é a da Beira-Gare em Lisboa, junto à estação do Rossio.  Correto. Mas é no Porto que estamos, e estas merecem ser provadas! 
À entrada tudo indicava que seria uma boa experiência….. bico do fogão na montra, em lume muito muito brando, onde numa frigideira desgastada pelo uso borbulhava o molho que amacia as febras ao longo de muito tempo. Prova de que nem só na alta cozinha se usa a técnica de cozedura a baixa temperatura. As bifanas recheando generosamente um papo seco, espreitavam-nos pingando o molho no guardanapo. E que pingo! Estas bifanas merecem a oportunidade de serem provadas.  




bifanas picantes no restaurante Sol e Sombra


E pronto, são estas três pérolas que descobrimos e queremos partilhar. Mesmo não se tratando de cozinha tradicional, representam o carácter da nossa cultura e algo que devemos respeitar. 
Desculpem qualquer coisinha neste nosso comentário, mas ser demasiado sério e falar de tascos castiços são coisas que não combinam!

PORTO "é tópe" !

Querido Portugal,

foi em pleno coração do Porto, na rua Sá da Bandeira que iniciámos mais uma aventura culinária!
O Chef Arnaldo Azevedo e a sua equipa do restaurante Palco, no Hotel Teatro receberam-nos à boa maneira das gentes do norte.

A recepção

... foi de fazer crescer água na boca! Fomos convidados pelo hotel a provar um dos menus de degustação ao jantar:

- a nossa versão de pézinhos de coentrada*
- ovo a baixa temperatura, creme de manchego e espargos
- robalo de linha, risotto de sapateira, a ervilha e o puré
- peito de pato, puré de cenoura com especiarias e couve romanesca
- fondant de goiaba e gelado de queijo da serra

* principal destaque para os pézinhos de coentrada que em Borba já tínhamos provado na versão tradicional. Aqui a receita é reinventada respeitando os ingredientes tradicionais de base e transformando-os com novas técnicas. O resultado foi uma entrada criativa, mais leve e com o mesmo sabor dos tradicionais. (os olhos também comem).

Fechámos este dia à mesa na companhia de grandes profissionais da gastronomia em Portugal com quem pudemos partilhar o nosso projecto.





DIA I

Não poderíamos ter chegado em melhor altura! Com o dia dos namorados à porta havia muito trabalho para fazer!

- a primeira preparação: lavagantes e sapateiras com cheirinho ao nosso Algarve!
- mise-en-place para os jantares românticos que a noite iria trazer :)
- iniciação aos tascos portuenses: cachorrinhos na casa Gazela, praça Batalha
- regresso ao trabalho e de estômago cheio!

DIA II

 - lição da Lampreia com o mestre Arnaldo Azevedo (pai)
 - de volta à cozinha
 - continuação do rally tascos portuenses : sandes de pernil (casa Guedes), bifana (Sol e Sombra)
 - de volta à cozinha (cada um de nós ficou a ajudar uma secção)

DIA III

- almoço da lampreia no Toca da Formiga
- tarde de convívio com gentes do Porto
- de volta ao trabalho na cozinha
- francesinha no Capa Negra





O balanço final da nossa passagem pelo restaurante Palco foi muito positivo. Todos nós encontrámos pontos em comum com a maneira de estar e trabalhar destes cozinheiros. Cada um deles mesmo sem darem por isso irão inspirar-nos a sermos melhores profissionais.





O Chef Arnaldo transmite uma cozinha de sabor e de alma. Com o conhecimento dos produtos e abertura para novas criações sem nunca esquecer as suas origens- "quando sabemos fazer bem a nossa cozinha, as outras são simples"

Esta é a prova de que respeitando os ingredientes tradicionais e os sabores característicos de cada prato podemos sempre dar uma nova roupagem contribuindo e dignificando a gastronomia tradicional portuguesa.

 " a cozinha portuguesa é a melhor do mundo" Arnaldo Azevedo

Um obrigado também ao Dr. Paulo Costa, à directora Susana Tavares, ao Chef Arnaldo Azevedo (pai e filho), à Dª Manuela Azevedo, ao Miguel, ao Nuno, ao Tiago, à Dª Ilda e a Dª Esménia e à restante equipa do hotel.

Foi "tópe", Arnaldo! :)

Sangue, tripas e miudezas, parte II em Ermesinde

Lampreia!! Está oficialmente aberta a sua época!

Como tal, ninguém melhor que o Mestre Arnaldo Azevedo na sua Toca da Formiga para nos dar uma lição para a vida..



Antes de passarmos à confecção é essencial saber limpar a lampreia, pois se este processo não for bem executado poderá estragar a qualidade do produto.


Primeiro deve-se amarrar a cabeça da "bichinha",depois escaldá-la para que se possa raspar toda a viscosidade que tem no corpo.


                                                                                  Arnaldo Azevedo (pai e filho)


(lampreia já limpa e pronta a cozinhar. O processo de "matança" pode impressionar os mais sensíveis pelos que optamos por não colocar imagens mais explicitas)

Numa segunda fase, há que saber fazer os cortes com mestria nos sítios certos, para se poder retirar a vesícula biliar sem a romper. Coloca-se por baixo um recipiente com vinagre de vinho tinto para recuperar o sangue, que será usado mais tarde na confecção.
Após cortar a lampreia em porções do tamanho desejado, deixa-se durante cerca de meio dia numa marinada de vinagre de vinho tinto, sangue, vinho tinto, louro, alho e sal.
E esta é a base que permite preparar pratos como o arroz de lampreia ou a lampreia à bordalesa, entre outros.



lampreia à bordalesa

Na Toca da Formiga pudemos experimentar a lampreia à bordalesa, acompanhada com fatias de pão frito e arroz branco. Para o Paulo e para a Ana foi uma primeira vez e aprovaram o prato. Para a Filipa, a lampreia não lhe é desconhecida, e não, não era prato que escolheria, porém este foi excepção e surpreendeu-se (pela positiva) do sabor. 
Assim se vê como o conhecimento e o domínio da técnica, transmitidos por quem melhor sabe, pode fazer a diferença no resultado final.
Queremos agradecer ao Arnaldo pai e Arnaldo filho por esta experiência!


sábado, 16 de fevereiro de 2013

Sangue, tripas e miudezas, parte I em Vila Real






Chaxoila, foi o restaurante que nos acolheu nesta maratona de boas tripas aos molhos, tripas à portuguesa e arroz de cabidela.

Estes são três pratos muito peculiares.. ora vejamos:

Tripas aos molhos  (com o bucho/estômago de vitela e atado com tripa fina)
pequenos atados de dobrada enrolados com tripa e guisados.





Neste prato, tivemos as nossas primeiras baixas gastronómicas, A Ana e a Filipa provaram e ficaram pelo caminho. É sem dúvida um prato de forte aroma e intenso paladar ao qual uma pessoa do sul não está habituada! Cá, no norte é muitíssimo apreciado. Um verdadeiro ícone da gastronomia local.


Tripas à portuguesa  (com o bucho/estômago de vitela nas suas várias partes)
também conhecida por dobrada mais ao sul do país, à qual se junta feijão branco como se de uma feijoada se tratasse.





Arroz de cabidela (com o sangue da galinha)
um arroz de galinha caldoso terminado com sangue de galinha e de travo avinagrado.




Neste prato, a Filipa também não resistiu. A Ana e o Paulo deliciaram-se!! O vinagre neste prato é sem dúvida um ingrediente que não pode faltar! A galinha era caseira e o arroz estava caldoso.

Sabores de memória para alguns.....sabores de descoberta para outros. Mas só provando se podem descobrir estas riquezas e singularidades da nossa gastronomia tradicional!